Os órfãos do Bar Natal

Por Rovena Sayão e Colin Vieira

Toldo verde, cadeiras de madeira, balcão estreito e comprido, quitutes e garrafas de cerveja em abundância pelas mesas. O Bar Natal aparentemente em nada se diferenciava de outros tantos. Era discretamente freqüentado por bicheiros cantando seus números toda tarde e por prostitutas que se aqueciam para mais um dia de trabalho. Quem olhasse de longe não poderia imaginar como ele marcou de forma definitiva uma geração. Seria mais uma portinha daquela Niterói de ar pacato, que se ligava ao Rio de Janeiro somente através de barca.



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Estamos falando do conturbado ano de 1968, quando, em meio à censura do meios de comunicação que discordassem do governo militar que se instaurara, foi criado o curso de Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense. Idealizado por Nelson Pereira dos Santos, nascia anexo ao já existente curso de biblioteconomia no antigo Cassino, prédio onde hoje funciona a reitoria da UFF. Dois anos depois, as aulas foram realocadas no prédio da Matemática, no Valonguinho. E foi nesses arredores que os estudantes adotaram o bar do seu André, seu Luis e dona Modesta.



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Foi um começo tumultuado, com ausência de professores e matérias dadas de maneira dispersa por várias partes do campus. O Bar Natal servia para unir os estudantes de comunicação não só em torno da cerveja, mas de assuntos de interesse da universidade e do país. Era um tipo de “complementação teórica” do curso de comunicação. Segundo o jornalista e cineasta Roberto Petti, todas as mobilizações eram planejadas no bar. “Se o curso de cinema existe até hoje é porque nós fizemos uma Comissão de Cinema quando quiseram acabar com ele. Conseguimos equipamentos e até reunião com o MEC para conversar sobre a questão”, conta Petti. Ele foi vice-presidente do Diretório Acadêmico e, além de cuidar das questões políticas da universidade, ajudava a organizar as festas. Atualmente trabalha na Globosat.




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