Pauteira do Globo foi 'habituée' do Bar Natal

Por Rovena Sayão e Colin Vieira

A jornalista Solange Duart, no jornal O Globo há 23 anos e coordenadora de pauta há seis, descreve o clima do bar: "O Bar Natal era o centro de tudo. Você conseguia estágio, emprego, namorava, casava, separava, chorava ou comemorava por perder ou conseguir um emprego". Ela conta que quem sentasse na mesa só podia levantar-se depois que ela estivesse preenchida por cascos de cerveja. A assiduidade era tamanha que Solange passou a levar seu filho pequeno para o bar. "Eles brincavam que o nome dele tinha que ser Garrafo, e se fosse menina, Garrafa", lembra ela, entre risos. "Meu filho ia para o outro lado do balcão e pegava bala, chocolate. Dona Modesta não deixava eu pagar nada do que era para ele. Falava: 'e eu lá vou cobrar as coisas que são para o meu neto'?”, conta Solange.

Fernando Paulino, jornalista e escritor, é o organizador dos encontros “Órfãos do Bar Natal”. Ele não se esquece do tempo em que o bar virou, definitivamente, seu ambiente de trabalho. “Como eu era responsável por cobrir essa área do estado e naquela época não tinha celular e muito menos internet, eu posso dizer que o bar do seu Luís já foi minha sucursal. Nos tempos em que trabalhava no jornal “Luta Comunista”, eu usava o telefone do bar para ligar e receber ligações. E, naturalmente, eu tinha que estar no bar o tempo todo”, diz Fernando.



O evento mais curioso, sem dúvida, foi protagonizado por Oswaldo Maneschy, em 1973. O então estudante de Jornalismo, freqüentador assíduo, resolveu casar-se no bar. Como ele mesmo lembra, estava sem dinheiro e o jeito foi casar no cartório e ir festejar com os amigos com uma peixada no Bar Natal. A família dos noivos nem compareceu. “Quem fotografou foi um cara que hoje é famoso na publicidade, o Humberto Medeiros. Mauro Dias, que hoje é critico do Estadão, também fotografou meu casamento. Éramos todos colegas da primeira turma da UFF. Enchemos os córneos de cerveja, fomos ao mercado de peixe, combinamos com o seu Luis e ele fez a peixada sem cobrar nada, foi o presente de casamento dele. Foi assim que me casei”, relembra Oswaldo.

O Bar Natal foi fechado em 1984 para dar lugar ao Plaza Shopping. De acordo com os freqüentadores, houve duas cerimônias: uma mais descontraída, aberta a todos, e outra, mais íntima, em que seu André, seu Luís e Dona Modesta convidaram só os freqüentadores com os quais se criou uma ligação forte – muitos alunos de comunicação da UFF estiveram presentes. Os donos ainda fizeram um tributo aos assíduos participantes daquela história: eles doaram algumas peças da mobília para que cada um guardasse uma recordação dos quinze anos de imensa alegria, naquele simples bar do centro de Niterói.

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