Por Emmanuel do Valle
“Fui, de fato, um dos fundadores do curso, já que o pessoal anterior tinha mais vez com Biblioteconomia. Os primeiros professores concursados foram o Nelson Pereira dos Santos, Nuno Veloso e eu”, afirma Muniz Sodré, considerado hoje um dos grandes pensadores de Comunicação e Cultura do país, com mais de 30 livros publicados sobre o tema, além de traduções em vários idiomas.
Baiano de São Gonçalo dos Campos, Muniz Sodré de Araújo Cabral graduou-se em Direito pela universidade federal de seu estado em 1964. Passou do universo jurídico para o da Comunicação Social, seu grande objeto de interesse, ao cursar o mestrado em Sociologia da Informação e da Comunicação na universidade francesa Sorbonne. Atualmente é livre-docente e professor titular na área pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), além de presidir a Fundação Biblioteca Nacional, vinculada ao Ministério da Cultura.
Na UFF, Muniz - juntamente com Theodoro de Barros - ajudou a formar as primeiras turmas de Jornalismo, num quadro docente que incluía nomes como Nilson Lage, Érika Werneck e Rosental Calmon Alves. O curso dava seus primeiros passos no auge do Governo militar. Ao trabalhar com a livre expressão, fortemente tolhida no período, as primeiras turmas de professores e alunos estavam sob a sombra constante da repressão.
“Nós nos movíamos em meio ao medo de delações, já que tudo poderia ser considerado subversivo, em uma busca ansiosa pela 'coisa' chamada Comunicação. Eu dava aulas à noite - era professor de 20 horas -, e durante o dia era professor na UFRJ. Foi difícil, sim”, relembra Muniz.
Como se não bastasse, a Comunicação Social não contava com grande incentivo da administração da Universidade. Mas, como conta o professor Muniz Sodré, isso não foi um obstáculo intransponível para o crescimento e o reconhecimento do curso nos anos seguintes. “Era um período difícil, mas criativo. As salas, na Rua Miguel de Frias (em Icaraí), eram precárias, o curso não tinha maior importância para a Reitoria, mas os alunos eram de fato interessados. Havia uma espécie de cumplicidade ou boa interação entre estudantes e professores. Tudo estava em construção: currículos, relações pessoais, administração”, recorda ele, saudoso.
Dos 30 anos de serviços prestados à UFF, o mestre levou consigo a certeza de que “ensinar é necessariamente aprender, ao mesmo tempo”, como destaca: “Aprendi a ensinar e a aprender. Fiz amizades com professores e alunos que duram até hoje. Parte considerável dos docentes de Comunicação da UFF foram meus pupilos. O mesmo posso dizer de profissionais que hoje militam na imprensa brasileira”, afirma.
No entanto, Muniz Sodré diz desconhecer o legado que deixou na instituição. “Acho que também ninguém sabe. No dia em que me aposentei da UFF, passando para a dedicação integral na UFRJ, ninguém me veio sequer apertar as mãos para dizer 'adeus' ou 'até logo'. Acho que a ditadura havia nos habituado às pequenas distâncias”, lamenta, antes de encerrar com uma brincadeira: “Mas eu não disse 'UFFA!' O afeto ficou”.
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