Por Jaqueline Deister
A exigência do diploma de Jornalismo para o exercício profissional divide opiniões de professores do curso de Comunicação, jornalistas e da própria sociedade, consumidora de informação e a mais atingida pelo processo de produção da notícia. O diploma dá margem para a discussão de outras questões, como o registro profissional – que aparece como um dos principais assuntos a serem debatidos – e a possibilidade de uma qualificação no nível de pós-graduação para o exercício profissional.
Qualificar um profissional segundo a cartilha da empresa. Este é o medo de parte dos professores de Jornalismo do IACS. O jornalista condicionado a seguir interesses mercadológicos e ideológicos segundo as normas da empresa X ou Y, sem o fundamento teórico para julgar a formulação da reportagem e os interesses que estão por trás dela, é uma deficiência para o profissional da Comunicação que lida com o principal veículo formador de opinião da sociedade.
Para Sylvia Moretzsohn, a importância das escolas de Comunicação está além da questão do diploma. Segundo a professora, que tem dois livros publicados sobre o Jornalismo, a escola aparece como um lugar que forma jornalistas e que pode contribuir para a democratização da comunicação. “Temos que transformar a escola de Jornalismo. Os laboratórios de rádio, TV e impresso devem produzir um material que se contraponha ao senso comum veiculado na grande mídia, conscientizando a população de que a simplificação dos discursos jornalísticos não se aplica tão facilmente ao dia-a-dia do cidadão.”
Sylvia acredita que o diploma não garante um emprego, mas afirma ser uma garantia à sociedade de que terá um profissional tecnicamente e teoricamente preparado para exercer a função. Ela assinala, ainda, que é possível pensar na hipótese defendida pelo professor/pesquisador da Universidade Federal da Bahia (http://www.facom.ufba.br/), Marcos Palacios, de uma pós-graduação profissionalizante.
Palacios defende a idéia de que alguém graduado na área de Humanas possa se pós-graduar no campo da Comunicação. “Defender o diploma de Jornalismo como única e exclusiva via para que a sociedade tenha um jornalismo 'sério', 'responsável', 'livre', ou qualquer outra adjetivação que se queira usar, é simplesmente uma falácia”, afirmou o pesquisador na lista de discussão da Associação Brasileira Brasileira dos Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor, http://www.sbpjor.org.br/).
De acordo com o pesquisador, não haveria um crescimento tão extensivo para o mercado de trabalho, pois o mestrado demanda dedicação e muito trabalho. “A abertura controlada pela Capes de um acesso via pós-graduação é uma forma de fornecer uma alternativa para a entrada responsável de colegas formados em outras áreas e que, uma vez que queiram complementar a sua formação específica e humanística com uma formação jornalística, poderão trazer um interessantíssimo aporte para a melhoria do padrão geral do Jornalismo”, salientou Marcus Palacios.
A proposta de Palacios é a mesma do ministro da Educação Fernando Haddad e que tanto tumulto tem causado entre a Federação Nacional de Jornalistas (FENAJ) e o governo. Haddad é contraditório ao não defender o diploma e dizer que o Jornalismo está entre as quatro profissões mais influentes do país. Ele afirma que o curso de Jornalismo está na mira do MEC, junto com Direito, Medicina e Pedagogia, por ter uma conexão direta com a democracia. O ministro diz que mexer nas diretrizes curriculares não tem ligação com a obrigatoriedade do diploma, mas enfatiza que a preocupação principal é com a qualidade profissional.
O presidente da FENAJ, Sergio Murillo de Andrade, é a favor da medida que permite o acesso através de uma pós-graduação desde que a recíproca seja a mesma. Por exemplo: o jornalista que quisesse graduar-se nas áreas de economia e/ou ciência política seria beneficiado pelo aproveitamento de disciplina e diminuição da carga horária, da mesma forma como um historiador que pretendesse cursar Jornalismo.
Uma parcela dos professores concordam com Haddad no sentido de que reformulações curriculares deveriam ser implementadas. Na UFF, a própria Sylvia Moretzsohn acredita que o recém-formado jornalista carece de matérias nas áreas de Direito e História. “Falta uma formação de base em áreas fundamentais. Acredito que matérias como História das Cidades, Direito Constitucional, Introdução ao Direito e Direito Criminal deveriam fazer parte da grade do curso.”
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