Com 28 anos de magistério e 33 como jornalista, JB pode, como poucos, refletir sobre as mudanças ocorridas na formação e no perfil dos alunos e profissionais de comunicação vindos do IACS. Para ele, da sua época de estudante e início de seu magistério até os dias de hoje, pouca coisa mudou em termos de comportamento, mas é possível perceber uma grande diferença com relação à liberdade de expressão. “São duas coisas que costumam andar ligadas, mas que em um regime de ditadura como o da época não funcionava assim”, conta o professor.
JB lembra que, ao contrário do que pode parecer, o próprio surgimento de um curso de comunicação em pleno regime ditatorial foi uma estratégia política adotada pelo governo Militar. Ele diz que, antes da Reforma Universitária de 1968, o curso de jornalismo e toda uma gama de cursos ligados à área de humanas eram um apêndice do curso de filosofia. Isto fazia destes ambientes um espaço de discussão política muito forte e o lugar de contestação costumava ser a faculdade de filosofia. “Para tentar neutralizar isso, o Regime Militar aplicou uma reforma que, entre outras coisas, implodiu o curso de filosofia e criou várias faculdades. A fórmula de Maquiavel, dividir para melhor governar, foi a receita usada pelos militares” lembra. Mesmo assim o Regime Militar se manteve rígido com os cursos universitários. JB conta que em seu tempo de aluno um simples convite de um palestrante à Universidade precisava de autorização. “Para o diretório de estudantes colocar um cartaz, era necessário um carimbo da direção da Faculdade, coisa que hoje é impensável”. Segundo a avaliação de JB, naquela época os alunos eram mais engajados e o nível de consciência social, sobretudo política, era bem maior.
Outra mudança percebida por JB é que, nas décadas de 1970 e 1980, a diferença de idade entre alunos e professores não era tão grande como hoje: os professores eram mais jovens e os alunos não ingressavam tão cedo no IACS. “Era muito comum termos gente que trabalhava e que havia parado de estudar um tempo mas que tinha resolvido voltar aos estudos”, lembra. Por esse motivo, JB considera que havia uma integração maior entre alunos e professores. Ele conta que as festas eram comuns no IACS, havia pelo menos uma a cada mês e isso favorecia a integração. “Nas mesas dos bares em volta da faculdade era muito comum ver alunos bebendo com professor. Hoje isso é raro”, relembra.
Apesar dos longos anos de experiência acadêmica e profissional, JB mantém a sua simplicidade e percepção crítica da responsabilidade do professor de comunicação. Ele resiste à pretensão de achar que já viveu de tudo e sabe que ainda pode vivenciar muitas situações novas. “Ninguém é professor sem ter sido aluno antes. Com 28 anos de magistério a gente acha erradamente que não vai se surpreender com nada, mas até eu me aposentar sei que ainda vão surgir muitas situações”, conclui João Batista.
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