Por Luã Marinatto
Como não poderia deixar de ser, a obrigatoriedade do diploma para exercer o Jornalismo também suscita discussões entre profissionais inseridos no mercado de trabalho. Para discutir o tema, a equipe do blog uffCOM40 foi ouvir ex-alunos do IACS formados nos últimos 10 anos.
Hoje assessora de comunicação da Imprensa Oficial do Estado do Rio de Janeiro, Andréa de Freitas Machado já teve experiências em redação de jornal impresso e internet. Embora defenda uma reforma no currículo das faculdades, a jornalista é a favor da obrigatoriedade do diploma.
“Há 50 anos, o Ensino Médio proporcionava uma formação mais humana e completa, tornando possível uma visão global de mundo sem tanto estudo. Agora, os tempos são outros. Fazer Jornalismo não é só escrever, apurar e ter um texto legal. É preciso ter noções concretas de ética, além de uma base humanística e sociológica. Acredito até que esses valores devem ser transmitidos dentro da universidade antes mesmo de conteúdos práticos”, afirma Andréa.
O discurso de Alexandre Gaspari, editor-chefe da revista Brasil Energia, vai mais além. “Se colocarmos outros profissionais para desenvolver o trabalho de um jornalista, eles vão usar sua própria linguagem e fica difícil estabelecer um modelo. Se um economista resolve escrever em jornal, ele utilizará o 'economês', uma linguagem técnica e específica para a sua área. Algo nada palatável se comparado com o jornalismo feito hoje, que tem o objetivo de alcançar a todos com uma linguagem simples e de fácil acesso”, questiona.
Assim como Andréa, Gaspari também critica a atual grade curricular das universidades. O jornalista acredita que a duração do curso é excessivamente longa e protesta contra o pouco espaço oferecido para especialização. “O que eu me pergunto é se são mesmo necessários quatro anos para formar um jornalista. Talvez o ideal fosse primeiro ensiná-lo a escrever, em uma espécie de ciclo básico, para depois especializá-lo. A faculdade ofereceria noções de Jornalismo para depois focar na área que o profissional deseja de fato atuar”, complementa.
Há quem critique a exigência do diploma defendendo que a medida seria imposta por sindicatos e entidades ligadas à classe jornalística, sobretudo assessores e relações públicas, como fez o jornalista Delmar Marques em carta publicada no Observatório da Imprensa em outubro de 2005. Contudo, para Tatiana Diniz, editora de entretenimento do portal Globo.com, o argumento só reforça a necessidade de se exigir o nível superior em Jornalismo.
“Sou a favor porque a profissão já está muito desvalorizada em relação a salários, há uma defasagem enorme. A exigência do diploma possibilita uma maior união da classe em torno de sindicatos para defender seus interesses. No entanto, é fato que existem pessoas com qualificação para exercer o Jornalismo mesmo sem formação específica na área. Definir o que é um bom jornalista é algo bastante subjetivo”, pondera Tatiana.
Fora do perfil de ex-alunos do IACS, Luiz Augusto Erthal começou a trabalhar como redator aos 16 anos. Pouco depois, chegou a iniciar a faculdade de Jornalismo, mas não concluiu o curso devido a compromissos profissionais. Com mais de 30 anos de experiência jornalística na bagagem, Erthal critica veementemente os que tentam fazer do diploma uma necessidade incontestável.
“Eu entendo que a profissão do jornalista não pode ficar restrita a limites técnicos, pois o Jornalismo é uma forma de expressão de toda a sociedade. Redações menos corporativistas e mais abertas só iriam enriquecer os próprios jornais”, defende Erthal.
De uma maneira ou de outra, a vivência no ambiente acadêmico é essencial não só na formação técnica do jornalista. Essa é, pelo menos, a posição de Andréa de Freitas Machado. “Acho a universidade importante não só pelo ensino em si, mas também pelo que significa em termos de amadurecimento e troca de idéias. Você aprende a respeitar e escutar o outro, algo intrinsecamente relacionado ao exercício de qualquer profissão”, conclui a jornalista.
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